Quando nasci, um anjo torto, desses que
vivem nas sombras...
Sempre que penso nos meus primeiros
tempos, só me aparece, nos pensamentos, o fantástico "Poema de sete
faces", de Carlos Drummond de Andrade. Até porque costumo dizer o que o
primeiro pedaço é meu, que podia por meu nome, no lugar do dele. Ficava certo.
Sempre fui assim, meio gauche na vida.
Mas não é nada disso!
A conversa é que nasci em uma época em
que o tempo era mais sossegado.
Tenho uma amiga que fala que a falta de
pressa é daqueles cujo tempo é medido em um relógio grande. Pois é, antigamente
todos os relógios eram grandes.
Hoje, tudo conectado, tempo real, a mil
por hora, fazemos as coisas na correria, sem curtir.
Assim, também, as refeições.
Quanta gente come sem saber o que comeu,
sem sentir o gosto, sem prazer. A coisa anda tão maluca que tem gente propondo
a ração humana. Como se fossem as pílulas de comida que apareciam nos desenhos
dos Jetsons, num futuro que nem sabemos se vai existir.
Para mim, para minha família, as
refeições boas são as que nem se preocupam com o tempo.
A gente gosta de chegar, sentar,
conversar, comer umas bobagens, enquanto espera a hora de ir para a mesa. Pode
ser um queijinho gostoso, biscoitinhos da minha mãe, canapés, um torresminho...
Tanta coisa boa.
E depois, já em volta da mesa, um
primeiro sabor, depois outro, voltar ao melhor, quem sabe, a sobremesa.
Nos jantares mais arrumados, servir uma
entrada.
Gosto disto.
Todos à mesa, vem um primeiro prato,
pequeno e leve, para começar os trabalhos, para iniciar a refeição.
Já fiz tantos, pela vida!
Para minha mãe, da vida antiga, da pompa
de outros tempos, a melhor é o coquetel de camarão, servido como deve ser, na
vasilha própria, com gelo em torno, com um grande camarão, bem bonito, a enfeitar.
Meu pai, não sei como, escolheu uma
maionese de lagosta, para sua entrada predileta. Logo ele, nascido e criado no
interior de Minas, hóspede-doente dos sertões da Bahia, classe média militante
e cheia de lutas.
Temos muito tempo, muitas páginas pela
frente. Ainda vamos apresentar estas duas e mais montes de outras.
Hoje, escolhi uma diferente, com uma
composição e uma apresentação difíceis de serem vistas por estas bandas.
São camarões, dentro de um abacate,
acompanhados de carambolas.
Eu adoro abacate. Puro, com limão e
açúcar, batido com leite, na guacamole, no meio de uma salada. É gostoso,
versátil, delicado de sabor.
Bom de combinar com um monte de coisas.
Já fiz, como estas, outras entradas,
usando vieiras, papaia, pimenta da Jamaica...
Escolhi a receita por ser a que tem o
preparo mais simples e os ingredientes mais fáceis de achar.
Camarões tropicais
Camarões salteados com carambolas, deliciosamente servidos
em um abacate
Ingredientes (para 2 pessoas)
Abacate – 1
Camarões cinzas (ou Rio Grande) P (ou M, no máximo)
– 150g
Cebola branca (batidinha) – 2 colheres de sopa
Pimentão amarelo (em quadradinhos de 3x3 mm) – 1
colher de sopa
Tomate (de vez, sem pele e sem sementes, em
cubinhos) – 1
Carambola (doce) – 1
Manteiga, azeite, limão, sal e pimenta do reino
Preparo
Partir o abacate ao meio, retirar os resíduos do caroço e tirar uma
pequena fatia do fundo (apenas para que fique estável no prato). Passar um
pouco de limão e reservar.
Cortar algumas fatias finas da carambola (formato de estrela) para a
decoração final. Desprezar as duas pontas e picar o restante em pedacinhos
pequenos.
Saltear os camarões, temperados com sal e pimenta do reino branca, na
manteiga e reservar.
Refogar, no azeite, a cebola picadinha, o pimentão amarelo cortado em
quadradinhos e o tomate. Deixar apurar e finalizar o refogado com pedacinhos de
carambola. Temperar com sal e pimenta do reino branca e acrescentar os camarões.
Servir o refogado quente, sem muito líquido, na cavidade do abacate,
que deve estar à temperatura ambiente.
Decorar com uma ou duas estrelas de carambola e fazer a composição do
prato (na foto, redução de balsâmico – que pode ser comprada pronta – e
pedacinhos de pimentão vermelho; outra opção interessante é usar uma folha de
alface crespa, com um mini tomate italiano cortado ao meio, para dar uma cor).
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