Pelo tempo afora
Num post anterior, contei da minha mania de andar pelos supermercados
da vida procurando por novidades, buscando munição.
No meu tempo de menino, as compras eram feitas nos armazéns, pela
caderneta. A dona de casa preparava a lista, anotava na caderneta, entregava no
armazém, recebia as encomendas. De raro em raro, uma ida rápida ao armazém (o
nosso era o Feira Livre, na esquina de Brasil com Padre Rolim e Ceará; no mesmo
prédio, na parte de cima, morava um colega de primário, Paulo Roberto Codo
Albino Dias, gente boa, estudante brilhante, cuja mãe faz parte das minhas
memórias gustativas, entre outros motivos por uma inesquecível pizza caseira,
de massa alta e macia; boas lembranças), onde as coisas estavam nas prateleiras,
atrás dos balcões. À vista pouca coisa: arroz, feijão, farinhas, tudo a granel.
Para conseguir alguma coisa de especial, o caminho era tentar influenciar a
mãe, na hora da caderneta (minha especialidade, naqueles tempos, era pedir mais
bacon).
Pouco mais tarde, veio o primeiro supermercado, o Camponesa, juntinho
do Instituto de Educação, na Afonso Pena. Que novidade! Andar entre as
prateleiras, escolher as coisas, colocar no carrinho. Achei aquilo muito
interessante, assumi a prática.
Casei, o assunto continuava a ser meu. Com prazer.
E foram muitas variações ao longo do tempo: os hipermercados, a época
dos atacados, Makro, as delicatessens, os primeiros supermercados gourmet, o
Mercado Central, o Distrital, com o Royal no meio, até chegar ao Verdemar. E
não só aqui. Em viagens, também. Explorando as ofertas pelos lugares onde
passava. Mas voltaremos a isso um outro dia.
Por aqui, a vida seguia, as idas às compras, e eu sempre examinando as
prateleiras.
Foi numa destas, há mais de 10 anos, que encontrei, na prateleira das
massas, uma caixinha com o nome de "risoni".
Uma coisa inusitada. Um pequeno macarrão, no formato e tamanho de um
grão de arroz (riso – risoni).
Levei para casa, fiquei pensando nas maneiras de usar.
Me encantava a ideia de um risoto diferente. Afinal, seria uma
preparação antecipada, com mistura na hora, e não o fazer na beira do fogão.
Assim, um belo prato para jantares em casa, quando não teria que ficar ausente
por muito tempo, deixando os convidados, envolvida na cozinha.
Umas duas primeiras tentativas médias, veio o acerto, começaram as
receitas.
Não tenho a menor ideia de quantos risonis diferentes eu já preparei. A
versatilidade da massa, a textura final, a aparência, tudo um convite à
criação.
E ainda era inusitado. Preparava, servia, o espanto era geral. Ninguém
conhecia, todos se admiravam.
E nada do risoni nos restaurantes, nas receitas.
Só muito recentemente comecei a encontrar oferta de risoni. E sempre em
boas casas, que prezam pela qualidade.
E os risotos, como ficam.
Bom, são pratos diferentes, texturas diferentes, sabores, diferentes.
Assim, continuo criando e fazendo risotos, criando e fazendo risonis.
Lembrando que o risoni gasta menos técnica e aceita um preparo
antecipado; o risoto não. É exigente.
Na receita de hoje, um risoni recente, mais belo e sofisticado. Nas
próximas vezes, trarei outros, mais simples, mas igualmente deliciosos.
Risoni de camarões com amêndoas e champignons
Ingredientes
(para 5 pessoas)
350 g de Risoni
400 g de camarões
eviscerados (médios)
200 g de champignons
em conserva (fatiados finos e escorridos)
0,5 l de creme de
leite fresco
Manteiga (proibido
usar margarina)
Cebolinha verde
(picada bem fininho)
Pimenta dedo de moça
(picada fininho e sem as sementes)
I colher de sopa de
cebolas desidratadas em flocos
50 ml (1 dose) de
whisky
100 g de amêndoas
inteiras (sem pele)
Temperos: Aji-sal
com pimenta, tandoori mix (pode ser substituído por páprica picante defumada),
shoyu picante, sal, pimenta do reino, azeite
Queijo grana padano
(ralado na hora)
Preparo
Molho
Doure as amêndoas na manteiga (atenção!
o segredo é fogo muito baixo e mexer sempre, para que consiga um belo dourado,
sem queimar). Reserve para o final.
Na mesma panela, aproveitando o gosto da
manteiga, coloque uma pitada de tandoori mix e umas 3 tirinhas da pimenta dedo
de moça, deixe fritar uns poucos segundos e acrescente os champignons em
fatias. Deixe refogar bem. Tempere com um pouquinho do Aji-sal e reserve.
Se camarões estiverem com os rabinhos,
retire-os. Tempere com sal, pimenta do reino (ou com o Aji-sal com pimenta, que
resolve as duas coisas) e um pouquinho de shoyu picante. Deixe descansar uns 15
minutos. Frite os camarões aos poucos, na manteiga com azeite, em fogo alto. Ao
final da fritura, flambe com um pouquinho de whisky. Reserve os camarões (deixe
sobre uma peneira, para que separe o caldo, pois vamos precisar dele).
Se você tiver os rabinhos dos camarões,
prepare um caldo rápido, com os rabinhos e um pouco de cebola batida. Deixe
apurar, passe na peneira.
Em uma panela limpa, coloque um pouco de
manteiga, acrescente uma ponta de colher de tandoori mix, a cebola desidratada
e deixe fritar um pouco (queremos um gosto tostado nos flocos de cebola, mas
sem queimar).
Acrescente o creme de leite fresco e
deixe abrir fervura.
Junte os caldos de camarão e o
champignon. Deixe reduzir um pouco, corrija o tempero com sal e pimenta e
finalize juntando os camarões e o restante do whisky (isto deve ser feito
quando o risoni já estiver ficando pronto)
Risoni
Ponha para ferver uma boa quantidade de
água (pelo menos 5 litros), acrescente uma colher de sopa de sal (grosso ainda
é melhor) e uma colher de sopa de azeite. Coloque o risoni para cozinhar e mexa
bem. Acompanhe o cozimento (o tempo está na embalagem e varia por marca),
mexendo de vez em quando (isto é importante, para evitar grumos de massa).
Quando ficar cozido e al dente (sem
desmanchar), desligue.
Montagem
Escorra o risoni, acrescente uma colher
de sopa de manteiga, misture e acrescente o molho, mexendo até ficar por igual.
Passe para a travessa de servir.
Espalhe as amêndoas torradas. Salpique
com as cebolinhas verdes e as tirinhas de dedo de moça. Polvilhe com o grana
padano ralado (pouco).
Sirva imediatamente.
Ao lado, um prato já
servido.
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